Entrei no primeiro café que encontrei, um café numa aldeia alentejana do interior. O café estava quase vazio. Três velhos sentados a uma mesa trocam palavras, falam de uma forma característicamente lenta e arrastada. Os velhos enquanto falam olham uma televisão que parece dar show para ninguém. Ela lá está! Aquela companhia inseparável.
A sensação de que se está acompanhado... Olha-se aquela caixa mágica donde chegam as notícias do mundo, tudo se torna tão próximo!
Ela ali está... mas não lhe ligam, olham mas não vêem.
Entro e sento-me na primeira mesa que encontro. Aqui fala-se a toda a gente, toda a gente se conhece.
Um homem segura-se atrás de um balcão olhando o vazio... e o seu olhar cruza-se comigo quando entro.
Aquele homem vem ter comigo e amavelmente pergunta-me o que quero. O meu olhar cruza-se com o dele.
Os nossos olhos cruzam-se como que a tentar perceber o que nos espera... estudamo-nos por segundos... Vejo os olhos mais tristes que já vi... o olhar daquele homem deixa transparecer uma tristeza sem fim... simpatia, amabilidade sem sorrir... Jamais esquecerei aquele olhar dilacerantemente triste, de uma profunda tristeza.
O café quente... perde o sentido, eu queria aquecer-me um pouco por dentro e saio dali enregelado.
Nunca me aconteceu... ficar tão marcado pelo olhar de um homem.
Os dias correm sem parar, sem fim naquela terra distante da confusão das cidades. O tempo corre sem parar. As derrotas do Benfica preenchem conversas de circunstância, e a conversa gira em volta de um italiano que deu à costa ali prós lados de Benfica. Fala-se do desapareci-mento dos mais velhos.
As pessoas arrastam-se, o tempo arrasta-se, e resiste-se... resiste-se ao desespero...
Sente-se no ar um odor de transpiração de espera de um fim que não chega...
O sol não aquece este dia de Inverno frio, gélido.
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